terça-feira, 8 de maio de 2012

XTERRA ILHA BELA

Largada e chegada na praia do Perequê, com uma imensa volta em direção ao lado sul da ilha. Porém se correr 80 km já é difícil, neste percurso tudo se tornaria pior, muita mata, pedras, lama, rios, cachoeiras, terrenos de difícil transposição e a escuridão da noite, tudo isto era a magia destes 80K. Sem falar na altimetria destruidora, com mais de 3.700m de ganho de elevação.
Percurso e Altimetria dos 80 km.
Ainda bem que o sol não saiu só um pouco de mormaço, pois com a largada às 13h15min imaginem se estivesse um sol forte.
 
Momentos antes da largada (eu e o Marcelino).

A largada foi na areia fofa da praia do Perequê - uns 100 metros - logo à frente já entrávamos nas ruas transversais que nos levariam às trilhas.

Largada 80 km.
Comecei em um ritmo forte para tentar acompanhar o pelotão da frente onde estava o Jorge, Marcelino e o João, pois eu estava no intermediário - cerca de 4,5min/km - iniciamos a subida para a estrada que leva à Praia de Castelhanos e entramos numa trilha em direção ao caminho para a Praia do Bonete. Muita beleza nesta parte, porém dificuldade também, subidas fortes e descidas igualmente duras até um pouco mais da marca de 20 km, logo diminuí o ritmo que estava muito forte e fiquei com uma galera que estava no meu pelotão.
Os postos de hidratação eram espaçados entre 5 e 10 km, por isto levei meu cantil de hidratação e ia abastecendo sempre que podia nestes postos ou qualquer fonte de captação de água do caminho.
Entramos numa parte asfaltada da Ilha sentido sul, com uns 15 km de extensão. Durante um tempo fiquei sozinho, mas logo avistei um grupo há 1 km e foquei para alcançar eles, somente depois de alguns minutos consegui chegar até passá-los e nunca acabava o asfalto e esporadicamente as fitas indicando que estava no caminho certo, porém apesar de ser de asfalto esta parte era um verdadeiro tobogã, com incontáveis subidas e descidas, deixando a mesma difícil. Foi quando encontrei um corredor chamado Bruno que estava na minha frente. Ele é carioca e estava vindo da prova da Volta à Ilha e estava também sentindo a dificuldade da prova e fomos juntos até a trilha no km 33 mais o menos. Encontramos o João que estava muito cansado e juntou-se a nós. Logo o Bruno aumentou o ritmo e se afastou de nós.
Por volta do km 38 entramos na trilha de acesso à praia de Bonete, passava-se das 20h e com o tempo fechado eu já havia aceso minha lanterna de cabeça e esta com outra na mão que ganhei do amigo (Ronaldo Marleta), pois além da escuridão que tomava conta da trilha neste trecho, era também o mais perigoso da prova, com o terreno todo pedregoso e escorregadio, várias travessias de rios, cachoeiras, buracos e barrancos. Caí várias vezes mas graças a Deus não me machuquei. Só fiquei com a coxa dolorida.
Após mais umas travessias em rios encontramos outro corredor que nos acompanhou até a praia de Bonete, Depois deste trecho muito duro cheguei ao km 45. Tinha sido muito difícil até aqui e havia 15 km muito complicados para chegar ao km 60.
 Em Bonete encontramos outros corredores que estavam descansando e pensando se iriam continuar na prova, então decidimos continuar apesar do tempo limite estar apertado. Saímos com outro corredor que conhecemos lá em direção a Castelhanos.
 Após isto vou seguindo a frente num trecho difícil com calçamento de pedras escorregadias e com muita chuva. Uma subida bem forte e descida pior ainda. Já sem água encontraramos com o staff dentro de um jipe que assim que nos viu ofereceu água e continuamos. Em seguida chega-se a parte mais complicada da prova, que nos levaria até a praia de Castelhanos passando pela fazenda Indaiatuba - um trecho de floresta fechadíssima com mata densa e as subidas mais penosas da prova, agravadas nesta hora por um forte temporal que dificultava tanto a subida quanto a descida, além de prejudicar em muito a visualização do caminho, porém nesta parte colocaram dezenas de cubos luminosos que indicavam o caminho. Por várias vezes olhei as luzes de sinalização que naquela altura mais pareciam estrelas.
 Neste trecho parecia que já tinha corrido uns 80 km mais não chegava os 60 de tão duro esta parte e sofremos bastante com as subidas que eram muito íngremes e ainda tínhamos que pular incontáveis árvores caídas. Em muitas delas passei rastejando por baixo. Durante o trecho caí em um tipo de lama e afundei minha perna direita até a altura do joelho. Foi quando dei um grito e o João me ajudou a sair deste buraco de lama. Um detalhe, estava caindo muita chuva e isso dificultou bastante esse trecho devido as pedras e descidas com muita lama.
Mas quando passávamos nos rios era uma benção, água gelada que refrescava as pernas e dava um novo vigor. O João falava: "molha as pernas até a altura das coxas isso vai ajudar", e realmente ajudou.  Por fim chegamos ao km 60 - somente um posto de apoio com água, refrigerante e amendoim. Já havia alguns atletas descansando e não sabiam se continuariam ou não a prova. Falei para o João: "não vou parar!". Chegamos aqui antes do corte. Era por volta das 23h. Não daria para terminar dentro do tempo limite mas eu queria terminar e ganhar minha medalha. Fomos então falar com a organização que não daria para chegar dentro do prazo limite em Perequê mas gostaríamos de receber a nossa medalha e depois de muito falatório, a organização liberou nossa ida.
Saímos em 5 atletas na direção da trilha do Castelhanos, totalmente quebrados e ainda faltavam 20km apesar de conhecido este trecho não tinha nada de fácil, também era um dos mais difíceis da prova, com uma subida de 8km direto. Porém, nesta subida, a organização desviou 1km dentro de uma trilha com subida, logo voltamos para trilha de terra batida. Ao chegar à marca de 70K, encontramos com um jipe da organização perguntando se estava tudo bem. Quando faltavam 7 km veio um staff de moto para nos acompanhar. Faltando uns 5km o João e um outro corredor deram um sprint final. Eu fiquei com os outros, pois estava totalmente quebrado. Só mantive o ritmo para chegar ao final. Neste trecho é bem difícil. Uma reta de paralelepípedo e uma outra de areia.
Um amigo de Goiás, eu e João

Enfim cheguei ao km 80!!! Concluí a prova em 33º lugar com o tempo de 14h40min. Sem dúvida, uma das provas mais difíceis que já participei. Largamos com aproximadamente 72 atletas, chegaram ao final somente 35 e somente 11 atletas completaram dentro do prazo limite de 12 horas.
 
Agradeço a todos em particular meus patrocinadores (Sr. Luis – GRUPO BUENO, Sr. Carlos – CALFER e Sr. Carlos Rissato – ACESSORIA EQUILIBRIO), a minha família que sempre me apóiam.